"O título não é mau, e a alma é ser-se"

Saudações seguidores do Nandi.Persona,

Desculpem desde já a ausência, mas a falta de tempo (ou de vontade) vem de mãos dadas com as repercussões de crescer e de nunca ter tempo para parar e pensar sobre algo.
É sobre este crescimento que vos venho falar hoje. Como já falei em posts anteriores, Pessoa falava no crescimento como sendo o condutor do nosso pensamento lúcido.
Pensamos demasiado nas coisas, questionamos tudo e vivemos pouco o momento. (último post em que falei dessa questão: "Pensar é estar doente dos olhos").

Mais uma vez vos falo em tom de desabafo, crescer foi algo que me apercebi que me tinha afetado há relativamente pouco tempo. Comecei a olhar para trás (não é um passado assim tão longínquo), amigos com quem tinha uma relação muito próxima, neste momento não passam de estranhos, pelos quais apenas mantenho uma relação de cortesia, as contas de casa para pagar, contar todos os tostões até ao último centavo. Comecei a dar valor a uma tarde de descanso e ir passear, nem que seja ao parque mais próximo de casa, mas espairecer, sair da rotina, estar com quem nunca saiu da nossa vida (pelo menos, até agora), resumidamente, assumir responsabilidades que até então nunca tínhamos tido.

Crescer... algo que esbarrou comigo e eu nem tive tempo de dizer se queria ou não. Até agora (e vou ser muito melodramática), crescer apenas tem sido estas pequenas perdas, perdas de pessoas, perdas de momentos, perdas de tempo.

Pode parecer que estou a tornar este lado do crescimento bastante sombrio mas não é, faz parte e estou naquela fase de aceitação, como diz Ricardo Reis: "Depois pensemos, crianças adultas, que a vida / Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa, ", isto é tão verdadeiro, tudo passa, nada é o mesmo, como um rio, corre sempre no mesmo sítio mas nunca são as mesmas águas e assim é a vida de cada um, somos sempre nós, mas a nossa essência não é a mesma, graças às margens, às tempestades, a quem nos vê e a quem vive connosco.

Uma coisa que aprendi ao crescer foi a abraçar, abraçar os meus avós que cada vez se nota mais os anos a passar por eles, abraçar os meus pais, abraçar a minha irmã. Mas um abraçar sincero, de um até já com amor.

Crescer é mesmo assim, começar a dar valor a umas coisas, deixa de dar a outras, mas o importante é nunca deixarmos de ser nós próprios e sermos sempre fiéis à nossa essência.



Trabalho da artista Núria Farré
http://nuriafarre.portfoliobox.me/


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