"O poeta é um fingidor"

Saudações seguidores do Nandi.Persona,

Hoje venho-vos trazer um cenário diferente, e começo por perguntar, e se os heterónimos (Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos), tivessem uma vida nas redes sociais? Seria algo curioso de observar, de compreender e explorar. Então, vamos "fingir" que isso seria possível.
Comecemos pelo início:

Alberto Caeiro

Este heterónimo, é um defensor do Paganismo, ou seja, não tem religião alguma que o reja na vida. Como observamos na sua poesia, este escreve o que lhe vai na alma, sem regras, sem constrangimentos.
Partindo destas características, Alberto Caeiro iria, por exemplo, num perfil do Facebook, colocar no seu mural pensamentos aleatórios daquilo que lhe ia surgindo na alma, brigas acerca de religião este não se iria intrometer pois, não tendo religião nenhuma, não iria ter opinião acerca desta problemática. Já no Instagram este iria colocar aqueles campos verdejantes e as ovelhas de que tanto fala na sua poesia, na minha opinião não iria colocar fotos suas sendo este um Guardador de Rebanhos, não iria dar muita importância à sua aparência.
Em suma, Caeiro iria ser um utilizador passivo, sem grande relevância, mas que daria sempre a sua "filosofia" de vida aos seus seguidores, no entanto, tendo sido um homem que sempre viveu no campo e que o seu trabalho era guardar rebanhos, andar sempre no campo, duvido que este tivesse acesso a qualquer dispositivo ou até mesmo à Internet.

Ricardo Reis

Ricardo Reis é um heterónimo bastante peculiar, com uma personalidade e uma filosofia de vida difícil de entender, este é defensor do Epicurismo, "(...) cada qual de nós deve viver a sua própria vida, isolando-se de outros e procurando apenas, dentro de uma sobriedade individualista , o que lhe agrada e apraz. Não deve procurar prazeres violentos, e não deve fugir às sensações dolorosas que não sejam extremas." -  Frederico Reis.
Reis rege a sua vide em torno de sensações moderadas, então, este, se tivesse um perfil no Facebook e colocasse um fotografia sua com a sua amada Lídia e depois colocasse um estado a declarar o seu amor a Cloe, este não seria bem visto pelos seus seguidores, seria visto como uma pessoa infiel, e isto, por sua vez, iria causar uma discussão acesa no seu perfil, com comentários nada agradáveis acerca das suas últimas atualizações, este, que procura sempre as sensações moderadas, controlar os seus impulsos, criando uma ilusão de calma, de liberdade e de felicidade, poderia causar duas atitudes neste heterónimo, a primeira, não iria ligar a tais comentários e problemas em torno das suas assumidas paixões pois estas não o afetam ou apagaria simplesmente a sua conta no Facebook, pois aquela dá muitas emoções para gerir e se queremos viver aquém das sensações e dos prazeres violentos, a solução seria não ter Facebook.


Álvaro de Campos

Este heterónimo, numa visão geral, é amante das roldanas, do ambiente fabril com uma visão futurista e amante das artes, mas, numa das fases da sua vida é um "homem sem esperança, sem sossego, sem outro conforto que o abafo das suas ilusões da realidade e a realidade das suas ilusões." (esboço para a Tabacaria), Campos acredita que o fim do mundo terá que inevitavelmente acontecer, "(...) A Terra esfriará sem que isso valha. Estranho a isso, estranho desde a nascença, o Sol um dia, se aluminou, deixará de aluminar; se deu vida, dará a si a morte.(...)". Com base nestas características podemos visionar que, se Álvaro de Campos, tivesse uma conta em qualquer das redes sociais iria partilhar todas aquelas profecias de que "o mundo acaba amanhã - 12.12.12", "Hoje vamos ter um meteorito a colidir com a Terra", e iria estar a alertar os seus seguidores para se prepararem que o fim estava a chegar.


Sem dúvida que seria curioso ver estes três heterónimos a interagir nas Redes Sociais, muito provavelmente teria sido mais fácil para Fernando Pessoa a expansão da sua poesia pela Rede, ou talvez não, talvez fosse oponente do uso destas e iria continuar a escrever, na sua secretária ou até mesmo no café A Brasileira, não sabemos, o "ses" são imensos, resta-nos a nossa imaginação e prospeção desta inatingível realidade.


Heterónimos de Fernando Pessoa: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Desenhos de José de Almada Negreiros. Pormenor da fachada gravada da Faculdade de Letras da U.C.L., 1957-61. França, J. Augusto (1974), Almada o Português Sem Mestre. Lisboa: Estúdios Cor.

Assinaturas de Fernando Pessoa e os seus Heterónimos: por José de Almada Negreiros








(Estas opiniões foram meramente construídas de acordo com a imaginação e estudos da autora, não se encontram baseados em qualquer estudo de autor)





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